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Brasil - Versão Impressa Segunda, 17 / 10 / 2005

Com armas, pelo desarmamento

Autoridades e personalidades se manifestam contra o comércio de armas, mas não dispensam revólveres e pistolas


Hugo Marques e Sérgio Pardellas

BRASÍLIA - O cidadão brasileiro que vai decidir no domingo, dia 23, se deve ou não ser proibido o comércio de armas tem razões de sobra para ficar confuso. Caso se baseie nos registros do Sistema Nacional de Armas (Sinarm), e nas declarações de voto de políticos e outras personalidades, encontrará uma vasta munição de paradoxos e incoerências.
Há, por exemplo, os que vão votar ''Sim'', (contra o comércio de armas) mas não dispensam proteção armada em casa. É o caso da apresentadora de TV Maria da Graça Meneguel, a Xuxa, que tem registradas em seu nome uma pistola Smith Wesson 380 e um revólver calibre 38, ambos com o porte vencido. A artista não foi localizada.

O ex-ministro das Comunicações, deputado Eunício Oliveira (PMDB-CE), tem três armas registradas em seu nome. Guarda em casa duas pistolas calibre 380. Um revólver calibre 38 é dado como roubado.

- Há 10 anos, tenho uma arma no Ceará e outra na fazenda, em Goiás. Mas não uso. Sou pelo desarmamento.

O senador Demóstenes Torres (PFL-GO) assinou a ata de fundação da Frente Brasil Sem Armas. Isto não o impede de ter registrado um revólver em seu nome, ''pendurado na parede, de enfeite''. Alguém poderá pensar, então que o senador vai votar ''Sim''. Engano:

- Desarmar é importante, mas vou votar no ''Não'', sem paixões - confessa o senador, parecendo não se importar muito com a aparente confusão entre gestos e decisões.

Dono de um revólver calibre 38, o senador Juvêncio da Fonseca (PDT-MS) considera importante garantir o direito à posse de arma para ''preservar a integridade física da família''. Mas não se mostra disposto a dar explicações sobre o motivo pessoal para ter uma arma:

- Não interessa o motivo - dispara.

Há outras autoridades que não abrem mão do seu arsenal pessoal, como é o caso do prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB). Em 2002, ele tinha 14 armas registradas em seu nome. Na semana passada, o número subiu para 15. O arsenal é formado por revólveres e espingardas.

Algumas personalidades se desfizeram dos arsenais particulares durante a campanha do desarmamento, mas mantiveram parte das armas. O governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz (PMDB), tinha 16 armas, entregou 13 à campanha, mas ainda guarda um rifle, um revólver 38 e uma pistola 380.

- Ele é fazendeiro - tenta explicar o seu porta-voz.

Quando se fala em arsenais, o ex-deputado Roberto Jefferson ganha lugar de destaque. Embora tenha trocado o tiro pelo canto lírico, o pivô do escândalo do mensalão se esqueceu de vender as armas. Jefferson tem registradas em seu nome 13 armas. São 9 revólveres, duas espingardas calibre 12 e duas pistolas, incluindo uma Ruger 44. Mais de um terço do dinheiro da campanha do ex-presidente do PTB foi doação das Forjas Taurus.

O equipamento do deputado Abelardo Lupion (PFL-PR) também impõe respeito: duas carabinas, duas pistolas, um revólver e uma espingarda calibre 12, além de um revólver calibre 38, dado como furtado. Lupion também não foi encontrado pela reportagem. O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) que o PT quer incorporar à tropa de possíveis futuros cassados, é a favor do ''Não'' e conta que - por carregar um revólver - conseguiu atemorizar uma pessoa alcoolizada que o atacou.

Ao contrário, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos é ''Sim'' garantido. Ele teve um revólver calibre 22 roubado há 11 anos, no escritório, e não comprou mais arma, com medo de acidente. Advogado criminalista e ministro, Bastos teria justificativas de sobra para andar armado. Tem segurança dia e noite da Polícia Federal e preferência entre os ministros nos vôos em aviões da FAB.