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GAZETA DO POVO
SEGUNDA-FEIRA, 13 de março de 2006

DESARMAMENTO

Estatuto derrubou venda de armas

São Paulo (AE) – Cinco meses – e R$ 280 milhões de gastos – depois de o governo federal ter perguntado aos brasileiros se queriam ou não a proibição da venda de armas, os números da Polícia Federal e dos comerciantes de revólveres e pistolas mostram que o referendo nem precisaria ter sido feito. Na consulta de outubro, 64% dos eleitores optaram pela manutenção do direito de comprar armas. Mas, mesmo assim, esse tipo de comércio está a caminho da extinção. A causa é o Estatuto do Desarmamento. Em vigor desde dezembro de 2003, a lei já foi suficiente para provocar uma queda de 92% no comércio de armas e levar boa parte dos lojistas à falência.

A peneira da lei é tão fina que, em 2003, quando a Polícia Civil ainda era a encarregada da emissão do documento, 7.387 portes de arma foram expedidos no estado. Depois do estatuto a atribuição passou a ser da PF e, dos 2.064 pedidos, só 16 foram concedidos. A análise do perfil do candidato para a concessão, ou não, do porte pode durar até um ano, segundo especialistas, embora a PF garanta que o prazo é de 40 dias.


As exigências da legislação são tantas que passar pela gincana da PF, hoje, é tarefa para poucos. O interessado em comprar uma arma - que precisa ser maior de 25 anos - tem de enfrentar uma maratona para juntar sete certidões, fazer dois testes (o de aptidão psicológica custa R$ 300,00 e o de capacidade técnica, R$ 100) e pagar taxa de R$ 1 mil. Depois, ainda precisa provar - e essa é a tarefa mais difícil - que tem necessidade de andar armado.

“Teimosia”

Tantas exigências estão acabando com o comércio de armas. “Nossa entidade ainda existe por teimosia”, diz Misael Antonio de Sousa, diretor regional da Associação Nacional dos Proprietários e Comerciantes de Armas (ANPCA). Após o estatuto, os lojistas que expunham nas vitrines revólveres e pistolas amargaram quedas vertiginosas nas vendas.

“Os que ainda existem estão sobrevivendo da venda de artigos esportivos, como material para pesca ou camping”, afirma Sousa. Segundo ele, das 1.730 lojas que havia no País antes do estatuto, só 120 mantêm as portas abertas, por enquanto. Em São Paulo, das 70, restaram 12. Lojas tradicionais, como a Casa Mabel ou a Tiro Certo, no centro, foram à falência.