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São Paulo, quinta-feira, 20 de outubro de 2005

Prefeito do Rio muda e faz campanha pelo "não"

SERGIO COSTA
DA SUCURSAL DO RIO

O prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), que havia se manifestado a favor do "sim", trocou de lado em menos de um mês e agora é pelo "não" no referendo. Na véspera do encerramento da campanha, está enviado e-mails a pelo menos 4.000 pessoas cadastradas através do seu blog político (fora do ar desde o mês passado). Multiplicada pelas redes de e-mails associadas a dele, essa audiência pode chegar a até 100 mil em dois dias.
No e-mail, além do voto, ele pede que façam campanha contra a proibição da venda de armas.
Curioso é que no último dia 3, consultado pela Folha sobre como votaria, respondeu "sim". "O plebiscito [referendo] engessa a decisão. O ideal seria tratar a arma como um automóvel, exigindo carteira, exame, revisão, perda da autorização, cadastro nacional etc. Mas, nas circunstâncias, tenho que votar e votarei sim, porque é a melhor das alternativas."
" Foi um processo evolutivo. Parti metodologicamente da posição "sim". E, assim como 40% dos eleitores, mudei de opinião no processo com as informações técnicas, legais e políticas que fui recebendo", afirma o prefeito, também pré-candidato do PFL à Presidência ou ao governo do Rio.
Na carta, que se chama "Hora Decisiva", o tom do discurso também muda. "De hoje a domingo -como em todas as eleições-, 25% dos eleitores ainda podem mudar de opinião. É hora de pedir voto, de esclarecer, de informar. O voto no "não" é dizer não aos bandidos! Não à violência! Não aos assaltos em condomínios e edifícios e ruas controladas!"
Em seguida, Maia afirma que EUA e Reino Unido jamais fizeram um referendo nacional e cita o uso "autoritário" do instrumento para dar plenos poderes a Hitler, na Alemanha, e por Hugo Chávez, na Venezuela, para fechar o Congresso.
A carta termina com outro pedido de Maia, que costuma responsabilizar só o Estado quando se trata de segurança: "Vamos pedir o voto "não" a nossos amigos, parentes, pessoas que trabalham conosco. Não ao monopólio dos bandidos! Não ao autoritarismo! Vote 1! Vote "Não'!"
Também por e-mail, desta vez à Folha, Maia explica a razão da politização do referendo. "Esse debate deixou de ser técnico há muito tempo. E seria inevitável num plebiscito nacional. Passou a ser político, e seu resultado dará muitas informações sobre como a população percebe politicamente a conjuntura e o governo."
O e-mail foi considerado oportunista pelo deputado estadual Carlos Minc (PT), defensor do "sim". "Ele ficou quietinho até aqui e agora, quando viu que o "não" cresceu, resolveu entrar em campo aos 44min do segundo tempo, para tentar recuperar a imagem de durão."