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São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2005

EU VOTO NÃO

Zezé diz que é contra impedir acesso a armas e que referendo é forma de o governo camuflar falta de segurança


DA REPORTAGEM LOCAL

Na entrevista abaixo, Zezé Di Camargo explica suas razões para votar "não" no referendo.


Folha - Como você votará no referendo e por quê?
Zezé - Votarei "não". As pessoas dizem que é perigoso ter uma arma em casa, que ela pode causar um acidente. Ora, se você for tirar tudo o que você tem na sua casa e que pode causar um acidente... Cuidado você tem de ter, e não é só com arma. Uma frigideira quente, uma tesoura, a piscina em que as crianças brincam. Se tem gente que usa armas de maneira imprópria, expondo a si ou a outras pessoas a riscos, eu acho que o certo, então, é dar cursos para ensinar como e quando usar a arma. E não proibir o comércio. Eu sou contra todo tipo de repressão.


Fala-se que muitas tentativas de reação armada a um ataque de criminosos acabam em tragédia...
Zezé
- Eu acho que existem casos e casos. Olha só o que aconteceu com um amigo meu: os bandidos tentavam entrar na casa dele, mas ele deu uns tiros na janela e afugentou os marginais. Pense em um coitado que mora em um sitiozinho, a 50 km da cidade mais próxima. Se tentam invadir a casa dele, como ele vai se proteger até chegar a polícia? É certo proibir esse homem de comprar legalmente uma arma para tentar defender sua família da violência?


Folha - O que você acha que acontecerá caso seja aprovado o "sim"?
Zezé
- Como as causas da violência urbana e a insegurança continuarão aí, muita gente continuará achando que andar armado é a melhor saída. A diferença é que, em vez de comprar uma arma pelas vias legais, ela comprará de um traficante, com todo o mar de violências que vem associado.


Folha - A maioria das celebridades está apoiando o "sim". Você não se sente minoria?
Zezé
- Eu acho que poucas celebridades estão se posicionando contra a proibição do comércio de armas porque têm medo de ser discriminadas, de ser tachadas de ignorantes ou violentas. E não é nada disso. Eu jamais comprei uma para dar tiro em alguém, eu não tenho arma. É inacreditável que um país que não oferece mínimas condições de segurança aos seus cidadãos exija que justamente os que andam na linha fiquem desarmados.


Folha - Qual é sua explicação?
Zezé
- Sabe qual a impressão que me dá? Como o governo está sujo e não faz a parte dele para garantir a segurança, quer responsabilizar o cidadão comum pela criminalidade. Mas, e os bandidos? Os bandidos estão à parte dessa discussão. A culpa é do cidadão de bem, que compra uma arma na loja e ainda a registra. Estamos perdendo uma grande oportunidade de fazer um referendo sobre coisas de fato importantes.


Folha - Como o quê?
Zezé
- Por que não fazem um referendo para reduzir a maioridade penal, que é muito mais importante? (LC)