Consulta passa longe de arma do crime
e da polícia
Conforme juiz, há uma guerra social e o cidadão
de bem está no meio dela
Robson Pereira
Presidente do 1º Tribunal de Júri do Rio,
o juiz Fábio Uchôa Montenegro convive diariamente
com a violência. Pelas suas mãos, passa
um de cada quatro crimes de morte ocorridos no Rio. Essa
experiência serviu para que formasse duas convicções:
a primeira é que os criminosos estão vencendo
com folga o que ele define como guerra social. A outra é que
a proibição da venda de armas e de munição
não afetará as estatísticas da criminalidade.
A violência vai diminuir se a venda de armas for
proibida?
Não há por que esperar por uma diminuição
no número de crimes de morte, até porque
as punições severas ao uso, posse e comercialização
de entorpecentes e drogas ilícitas não
conseguem impedir o crescimento das estatísticas.
Grande parte dos processos no júri não
está relacionada ao uso de armas legais. O que
aumenta as estatísticas são as trocas de
tiros entre marginais ou com a polícia. Essa situação
não será afetada qualquer que seja o resultado
do referendo.
Por que tanta certeza?
As
armas usadas pelos marginais já são
ilegais hoje e continuarão ilegais depois do dia
23. Nem as armas dos criminosos nem as da polícia
passam perto do referendo. O governo deu armas modernas
e poderosas à polícia e equilibrou o poder
de fogo entre uns e outros. O resultado? Mais mortes
e cada vez mais violentas.
Qual
a participação
das armas legais nos processos judiciais?
São desprezíveis em termos estatísticos.
Criminosos não vão a uma loja comprar um
revólver 38 nem uma pistola 380. Eles estão
atrás de armas sofisticadas, cuja comercialização
já é proibida.
Mas
e os crimes cometidos pelos cidadãos comuns?
A
maioria não tem relação com armas
de fogo. É a mãe que jogou os filhos no
rio ou o sujeito que matou o outro com uma marretada.
São crimes violentos, mas cometidos sem armas
de fogo. O grande problema são as facções
criminosas. Bandidos que matam para manter, dominar,
ampliar ou preservar atividades criminosas, geralmente
a venda de drogas. É uma guerra social e o cidadão
de bem, esse que está convocado a votar, está no
meio dela.
Qual é o
perfil do criminoso?
O
aspecto mais comum é a idade. O criminoso tem
até 30 anos. Depois dos 30, ou morreu ou está preso.
Mas esse é o criminoso que podemos ver. Dos 750
inquéritos que chegaram aqui no ano passado, 650
tiveram de ser arquivados pela impossibilidade de se
determinar a autoria. E acabam arquivados.
O
crime está vencendo?
Não tenho a menor dúvida. E por 7 a 1.
De 750 assassinatos, só 100 chegam à fase
de denúncia
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