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VIOLÊNCIA - Edição nº 11322 18/09/2005

Assassinatos com arma crescem 35% em Cuiabá

Dado dilui números favoráveis sobre ano passado, divulgados pelo Ministério da Saúde

ADILSON ROSA
Da Reportagem


A Campanha Nacional do Desarmamento se encerra em 23 de outubro, com a realização do referendo

O número de assassinatos provocados por arma de fogo neste ano aumentou significativamente em comparação com o ano passado na Grande Cuiabá. De janeiro a agosto houve 167 mortes provocadas por revólver, pistola, garrucha ou espingarda. No mesmo período do ano passado, ocorreram 123 execuções por arma de fogo, o que corresponde a um aumento de cerca de 35%.

Essa estatística dilui os efeitos da redução no número de mortes por armas de fogo na comparação entre 2003 e 2004, divulgada pelo Ministério da Saúde no início do mês. Entre os dois anos, Mato Grosso teve uma queda de 20,6% nos homicídios, suicídios e acidentes envolvendo armas de fogo, a maior queda do país. Como Cuiabá concentra mais da metade dos crimes, a tendência é que de 2004 para 2005, o Estado caia no ranking. Os 167 assassinatos com arma de fogo nos oito primeiros meses desse ano representam 70,79% do total de homicídios.

“Os números mostram que houve um aumento do ano passado para esse em execuções com arma de fogo e também no total geral. E não há uma explicação plausível para isso”, explicou a chefe de operações da DHPP, policial civil Aparecida Behmer.

A delegada Ana Paula Faria de Campos, adjunta da DHPP, tem parte da explicação para o aumento geral. O número de crimes passionais (envolvendo paixão) aumentou 330% nesse período. “No ano passado foram três crimes passionais. E neste, ainda nem terminou e temos 13 assassinatos por essa motivação”, informou. E mais da metade das vítimas desse tipo de crime foram executadas a tiros.

A Campanha Nacional de Desarmamento se encerra no dia 23 de outubro, com o referendo nacional. Neste dia, todos os eleitores terão que responder à pergunta: “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”.

Após esta data, as polícias dos Estados e a Polícia Federal continuarão recebendo revólveres e pistolas entregues voluntariamente. No entanto, o Ministério da Justiça deixará de indenizar o dono da arma.

A primeira etapa da Campanha, encerrada em junho, apontava para um aumento de assassinatos por armas de fogo. Em 11 meses os assassinatos praticamente dobraram. Para especialistas, a campanha em Cuiabá e Várzea Grande não surtiu efeito porque não diminuiu os assassinatos – as armas recolhidas estavam com pessoas não propensas à pratica de crimes.

Desencadeada em julho de 2004, a campanha prometia ser uma forma de diminuir os assassinatos em todo o país, e principalmente nas regiões metropolitanas mais violentas, incluindo aí a Grande Cuiabá. O resultado aponta que a violência, além de não ser reduzida, subiu para patamares alarmantes.

Para o doutor em sociologia e um estudioso da violência na Grande Cuiabá, Naldson Ramos da Costa, o que ocorreu não foi um fracasso do programa de desarmamento. “Num primeiro momento da Campanha de Desarmamento, entregou a arma quem tinha boas intenções com ela”, avaliou.