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Mercado negro
Proibição da venda de arma não
acabará com violência
por João Luís
Vieira Teixeira
Segundo
notícia recentemente publicada, a venda
de armas no Brasil teve uma impressionante redução
de 92% após a entrada em vigor do Estatuto do
Desarmamento (Lei 10.826), em dezembro de 2003. Todavia,
o índice de criminalidade nem de longe teve
a mesma queda de lá para cá. Aliás,
ele aumentou muito. Que o digam os inúmeros
casos noticiados de seqüestros-relâmpago
nas grandes cidades e os casos de “arrastões”
em praias, prédios e condomínios de luxo.
Isso prova
aquilo que já vinha sendo dito por
especialistas no tema há muito tempo: não
são as armas legais que são utilizadas
para o cometimento de crimes, mas sim as armas adquiridas
no mercado negro, abastecido pelo promissor tráfico
de armas, diretamente ligado ao tráfico de drogas.
Esses verdadeiros
arsenais do crime, com armas cada vez mais modernas,
potentes e precisas, dentre as quais
se encontram fuzis automáticos, submetralhadoras,
metralhadoras anti-aéreas e pistolas de calibre
exclusivo das Forças Armadas, foram ainda mais
ampliados agora com lançadores portáteis
de mísseis e foguetes. Pelo menos três
desses artefatos já foram apreendidos com traficantes
no Brasil.
Mas, voltando à nossa idéia central,
a realidade comprovou aquilo que já se sabia
e que o povo confirmou nas urnas no referendo de outubro
de 2005, quando mais de 60% da população
brasileira disse “não” à proibição
da venda de armas e munições. Pena que
tenham sido gastos mais de R$ 600 milhões para
isso, verba que supera, em muito, o investimento anual
do governo para Fundo Nacional de Segurança
Pública.
Os presídios federais, prometidos na campanha
do presidente Lula, ainda não saíram
do papel. Os investimentos em segurança pública
ficaram muito aquém do esperado e, ainda por
cima, a Polícia Federal, que poderia ser bem
mais atuante no combate ao tráfico de armas
caso estivesse melhor aparelhada, ainda não
recebeu a atenção que merece por parte
do governo federal.
Ao menos
se espera que, agora, o governo, ONGs, autoridades
e legisladores percebam o erro que cometem ao tentar
impedir a venda legal de armas. Não é esse
o problema ser enfrentado. Repetimos: as armas “frias”,
ilegais, é que precisam ser, enérgica
e eficazmente, combatidas.
Note-se
que, entre essa infinidade de crimes cometidos diariamente
em todo o país, são raríssimas
as ocasiões em que armas legalizadas foram utilizadas.
E assim acontece, também, no resto do mundo.
É uma pena que não aprendamos com nossos
erros. Assim, infelizmente, não é de
se duvidar que, em época eleitoral como a que
vivemos, novamente venha à tona essa suposta
panacéia para combater a violência: proibir
a venda de armas.
Revista
Consultor Jurídico, 20 de março
de 2006
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