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Votar
nulo é votar neles! Sandra Cavalcanti
A quem está vivendo, há meses, o drama de se sentir
traído, enganado e roubado, vale lembrar que, após
a agonia, existe sempre a esperança de uma Páscoa!
Nestes difíceis anos de minha vida política, não
me recordo de ter visto os brasileiros tão desanimados,
tão descrentes e tão desesperançados como
agora. Uma parte é composta por aqueles que jamais acreditaram
nas boas intenções e na competência dos atuais
ocupantes do Planalto, como é o meu caso, por exemplo. É que
eu convivi com a maioria deles e os conheci de perto. Tinha e tenho
juízo objetivo sobre a precariedade intelectual e a fraqueza
de princípios de quase todos eles. A outra parte dos desiludidos,
no entanto, é formada pelos que depositaram toda a sua fé nesses
mafiosos trapalhões, levando a sério as posturas
farisaicas desses líderes e confiando nas suas juras de
correção e seriedade.
Não há, na vida, nada mais doloroso que o sentimento
de ver traídos e desperdiçados todos os seus sonhos
!
O PT veio usando, nestes
anos, um discurso que ia direto aos corações
dos mais jovens, dos menos experientes. Um discurso emotivo, embora
vazio, apoiado, repetido e difundido por lideranças sindicais,
universitárias e religiosas. Esse discurso esperto despertava
em cidadãos bem-intencionados uma onda de civismo. Minhas
desconfianças em relação à ética
do PT não nasceram de preconceitos. Nasceram de fatos e
observações, principalmente durante trabalhos da
Assembléia Nacional Constituinte instalada em 1987.
O PT jamais se interessou
por qualquer aperfeiçoamento
de nosso sistema eleitoral e partidário. A prova mais eloqüente
dessa postura arcaica foi dada por ocasião das alterações
e modernizações do sistema partidário e eleitoral.
Queríamos as mesmas regras que, praticadas em nações
democráticas, dão mais poder ao eleitor e mais transparência
ao sistema parlamentar. Nada feito! O PT sempre votou contra tudo,
exigindo cega obediência dos muitos que, na sua bancada,
pensavam como nós...
Nossa causa não era partidária. Nem ideológica.
Era um passo adiante em nossa democracia. Queríamos o voto
distrital, puro ou misto, porque sabíamos o mal que o voto
proporcional vinha causando à nossa representação
democrática. Queríamos a fidelidade partidária
porque, há muito tempo, nosso país contemplava o
triste espetáculo de políticos que, sem a menor cerimônia,
e por razões inconfessáveis, mudavam de legenda após
a posse. Queríamos a cláusula de desempenho partidário,
para que nossa vida parlamentar não continuasse à mercê de
legendas de fundo de quintal, de seitas religiosas ou de aluguel
puro e simples. E queríamos, principalmente, o financiamento
público de campanhas, para que o poder econômico,
disfarçado ou não, parasse de interferir nos resultados
eleitorais. O PT sempre se opôs a qualquer mudança
nesse setor, e só agora, depois que tudo veio à tona,
ficamos sabendo dos motivos reais. Os recursos não podiam,
mesmo, ser declarados...
Felizmente, alguns avanços éticos e democráticos
foram alcançados, com grandes dificuldades. Tudo o que não
conseguiu ser aperfeiçoado teve o PT como agente paralisador.
E o pouco que já se faz não teve a ajuda do PT.
Nosso presidencialismo
continua imperial e capenga, ideal para o aparecimento de lideranças fanatizadoras, populistas,
salvadoras da pátria. Por isso eles continuam endeusando
o Fidel e, agora, o Chávez.
Nossos partidos continuam
sem sentido, frágeis capitanias
hereditárias de feudos em decadência. O voto proporcional
continua sendo a grande desgraça de nossa representação
política e uma das maiores causas de corrupção.
A falta da fidelidade partidária e a ausência de financiamento
público de campanhas, como se viu, estão na origem
de toda a imensa lambança que os técnicos em contabilidade
petista souberam inventar, o valerioduto e o mensalão. O
resultado está aí.
O PT nunca apoiou essas
bandeiras! Nem na Constituinte nem na revisão da Carta, em 1993. Na verdade, o PT nunca desejou
nenhum progresso partidário e eleitoral em nosso país.
Eles chegaram até a levantar desconfianças sobre
a urna eletrônica!
Ao PT sempre interessou
manter partidos fracos e eleitores sem poderes. E foi graças à ausência dos instrumentos
democráticos de vigilância cívica que eles
montaram seu espertíssimo esquema para abastecer o partido.
Passou a funcionar uma
nova fórmula, que só veio à tona
por conta de briga interna no Planalto. A revelação
de fatos estarrecedores, na CPI, deixou o País atônito.
O governo desmoronou. A alta cúpula do PT vai para o banco
dos réus. Talvez sejam punidos, talvez escapem... E nós,
fazemos o quê? Seremos ouvidos ou nossa voz foi arrancada
de nossa garganta?
Temos um dia marcado
para dar a nossa opinião e fazer valer
a nossa vontade: vai ser agora, daqui a pouco, em outubro. Apavorados
com nossa decisão, eles, do PT a aliados, já estão
em plena campanha, pregando o voto nulo. Querem calar a voz do
povo, pregando que a melhor vingança contra os políticos
corruptos é não votar em ninguém! Vão
usar muito dinheiro e muita mídia para reescrever a novela
do mensalão e do valerioduto. No relatório paralelo
que eles pretendiam apresentar, o mensalão nunca existiu
e o Planalto nunca comprou as legendas para compor a sua base.
Não caiam nessa armadilha! Vamos votar, sim. Não
faltaremos ao Brasil. Escolham bem. E votem! Votar nulo não
anula a eleição. Votar nulo anula você, eleitor!
Depois de tanta agonia,
desejo a todos uma feliz Páscoa
da Ressurreição.
Sandra Cavalcanti, professora, foi deputada federal constituinte,
secretária de Serviços Sociais no governo Lacerda,
fundadora e presidente do BNH. E-mail: sandra_c@ig.com.br
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