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Pelotas, RS, Quarta, 05.07.2006
Artigo: A
vitória esmagadora e histórica do Não no
referendo de outubro de 2005 (86,83% dos votos válidos no
RS e 87,65% em Pelotas) nada adiantou, pois, na prática,
o desarmamento de pessoas honestas é uma realidade. O Estatuto
do Desarmamento (lei 10.826 de 22 de dezembro de 2003) impõe
o "recadastramento" de todas as armas de fogo legais,
no território nacional até 23/12/2006.
Como funciona este "recadastramento": o proprietário
de uma arma de fogo, já registrada, deve, a cada três
anos comparecer a uma delegacia da Polícia Federal e comprovar
efetiva necessidade de manter a posse de sua arma, prestar exames
psicológico e prático e ainda pagar uma taxa de R$
300,00, por arma. Obviamente, os testes não serão
gratuitos, ficando o custo final do "recadastramento" bem
maior do que R$ 300,00.
Quanto à obrigatoriedade de comprovar "efetiva necessidade" de
possuir uma arma, que já é sua! Sem comentários...
Teste prático e psicológico? Se os testes fossem
aplicados a quem pretende obter um porte de arma, seria aceitável,
mas simplesmente para manter uma arma na própria residência é absurdo.
Além do mais, qualquer objeto pode ser usado como arma,
visto a recente tragédia em SP, onde um homem dizimou a
família inteira com uma serra elétrica e uma tampa
de panela de pressão.
Estatísticas indicam que existem, no Brasil, aproximadamente,
seis milhões de armas registradas. Cobrando R$ 300,00 por
arma, teremos um total de R$ 1,8 bilhão. Para onde irá o
dinheiro arrecadado?
É
fácil! Provavelmente irá financiar os mensaleiros
e/ou sanguessugas do Congresso ou, ainda, auxílio-combustível
a deputados, o que, em alguns casos, atinge a "modesta" quantia
de R$ 180.000,00. Outra possibilidade é que engorde o caixa
dois de algum partido. Afinal, temos uma campanha eleitoral em
andamento!
Em que este "recadastramento" vai ajudar no combate à violência?
Bem, certamente o pessoal do PCC vai comparecer nas DPs para legalizar
seu arsenal.
Lembro que existem quatro Ações Diretas de Inconstitucionalidade
(ADIs) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra mais este abuso
do Legislativo e, é claro, ainda não foram julgadas,
pois o STF está muito atarefado ultimamente, concedendo
habeas corpus para mentirosos, suspendendo depoimentos nas CPIs
e julgando recursos de deputados em processo de cassação.
Julgar o Estatuto não é prioridade do STF, por que
o seria?
Uma vez apreciadas as ADIs, espero que o tal estatuto seja derrubado
na íntegra, voltando a vigorar a lei 9437 de 1997, uma das
mais severas do mundo em relação às armas
de fogo. Ou seja, nunca houve necessidade da criação
do estatuto e muito menos de um referendo, que subtraiu algo em
torno de R$ 500 milhões dos cofres públicos.
O detalhe mais bizarro de tudo isto é que, caso as ADIs
fracassem, o cidadão que não "recadastrar" uma
arma já registrada em seu nome, até 23/12/06, passará a
ser considerado um "fora da lei", sujeito a quatro anos
de prisão, pois terá em sua residência uma
arma "ilegal".
Mas não se desespere, caso opte por não "recadastrar" ou
não tenha recursos para tal, sobra ainda a possibilidade
de entregar sua arma por R$ 150,00. Aqui temos uma interessante
contradição: a União paga R$ 150,00, mas cobra
mais de R$ 300,00, a cada três anos, para que você possa
mantê-la! Como entender?
Os legisladores nos consideram idiotas! Isto não é "recadastramento",
mas desarmamento compulsório e "fonte de recursos" para
a União!
Paulo R. A. Motta
Engenheiro e professor
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