Desarmamento:
conhecendo a verdade
por Peter
Hof em 03 de agosto de 2005
Resumo: Não há genocídio algum da juventude brasileira causado por armas
de fogo, assim como não existe um criminoso da classe média matando gente a tiro como resultado de
brigas no trânsito.
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“Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”
João, 8:32
Há dois meses apresentei os resultados preliminares de uma pesquisa onde
eu classificava os homicídios ocorridos na área do
Grande Rio de acordo com sua tipologia. Originalmente,
após apresentar os resultados dos dois primeiros
meses, minha intenção era de somente apresentar o
resultado final do trabalho ao fim de seis meses,
o que ocorrerá no dia 23 de setembro próximo. Como,
decorridos 66% do tempo de coleta de dados, as tabulações
diárias apresentam uma tendência clara que dificilmente
sofrerá uma mudança significativa em seu rumo; e
considerando que a apresentação do resultado final
ocorrerá apenas um mês antes do referendo, creio
ser importante que o maior número possível de pessoas
tome conhecimento da verdade e que, sobretudo, saibam
que os fatos são bem diferentes do que pregam os
anti-armas.
O que apresentarei aqui são os resultados dos quatro primeiros meses da
pesquisa sobre homicídios, abertos por suas diversas
categorias. Sugiro ao leitor que antes de prosseguir
leia o primeiro artigo desta série intitulado: DESARMAMENTO: ABRINDO
UMA CAIXA PRETA. Lá estão todos os detalhes sobre
o objetivo e a metodologia da pesquisa.
Tendo analisado relatórios oficiais das Secretarias de Segurança Pública
dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro; assistido
entrevistas e mesas redondas na TV Câmara sobre o
assunto Desarmamento; escrito a parlamentares, ONGs
e jornais, nunca consegui uma resposta sobre uma
simples questão que poderia esclarecer o assunto:
quantos são os homicídios que, em tese, poderiam
ser evitados pelo Estatuto
do Desarmamento? Mesmo os anti-armas, que sacam
números com a mesma facilidade com que mágicos tiram
coelhos de cartolas, foram incapazes de responder
a tal questão.
Tudo indica que a estratégia dos anti-armas é esta: eles constroem toda sua argumentação em cima da intencional ocultação dos fatos. Um bom
exemplo é a mesa redonda apresentada pelo programa Expressão Nacional da TV Câmara em 30/6/05, do qual participaram
os deputados Josias Quintal e Alberto Fraga, os senhores
Bene Barbosa (Viva Brasil) e Antonio Rangel (Viva
Rio) bem como o delegado federal Wilson Damásio.
O senhor Antonio Rangel mencionou várias vezes a
terrível tragédia de maridos machistas que matam
suas mulheres pelo simples fato de terem uma arma
em casa. Para um telespectador, cujo nível intelectual
lhe permite apenas assistir ao Jornal Nacional e às novelas da TV Globo, ficará a impressão que esta é uma
razão definitiva para se banir as armas das mãos
dos cidadãos. Afinal, raciocinará ele, nunca se sabe
quando um pacato marido se converterá num terrível homicida
machista. No entanto, a verdade é bem outra:
na pesquisa que verão a seguir, apenas quatro (0,9%)
dos 435 homicídios noticiados no jornal O Dia do Rio de Janeiro, entre 23 de março
e 22 de julho de 2005, foram causados por maridos
machistas. Na realidade três, pois um foi acompanhado
de suicídio. Este é apenas um exemplo dos coelhos
que os anti-armas, com a proficiência digna de um
Houdini, tiram de suas cartolas.
Foram casos como este e muitos mais, como o da “besta fera do trânsito”, o “matador
dos estádios”, “o pistoleiro dos bares”, que
me levaram a fazer este estudo. Como expliquei no artigo supra mencionado,
a técnica foi a do clipping,
que consiste em analisar todas as mortes noticiadas
em um determinado jornal (neste caso o jornal O
Dia, do Rio de Janeiro), num período de seis
meses. O que apresento a seguir é o resultado dos
quatro primeiros meses.
Apenas para relembrar, o estudo divide os homicídios em duas grandes categorias:
A – Mortes não evitáveis pelo Estatuto
do Desarmamento.
B – Mortes evitáveis pelo Estatuto do
Desarmamento.
MORTES POR ARMAS DE FOGO
|
A-
Mortes não evitáveis pelo Estatuto do Desarmamento
|
Policiais mortos
|
26
|
6,0%
|
Bandidos mortos
|
196
|
45,1
|
Bala perdida - A
|
18
|
4,1%
|
Assalto
|
48
|
11,0%
|
Razão não identificada
|
42
|
9,7%
|
Invasão de domicílio
|
10
|
2,3%
|
Por portadores legais
|
7
|
1,6%
|
Execução
|
72
|
16,6%
|
Chacina
|
0
|
0
|
Sub-total A
|
419
|
96,3%
|
MORTES POR ARMAS DE FOGO
|
B-
Mortes evitáveis pelo Estatuto do Desarmamento
|
Brigas no trânsito
|
1
|
0,2%
|
Brigas em bares/festas
|
4
|
0,9%
|
Brigas em família
|
1
|
0,2%
|
Crime conjugal/passional
|
4
|
0,9%
|
Bala perdida – B
|
2
|
0,5%
|
Encomendado
|
0
|
0,0%
|
Suicídio
|
1
|
0,2%
|
Outros
|
3
|
0,7%
|
Sub-total B
|
16
|
3,7%
|
Total Geral
|
435
|
100,0%
|
O número total de homicídios registrados pelo jornal O Dia, no período
de quatro meses, foi de 435. Para um rápido cálculo,
esquecendo-se algumas regras básicas da Estatística,
ocorre na área em estudo uma média de 650 mortes
por arma de fogo por mês. Assim, para um período
de quatro meses ocorreram estimados 2.600 homicídios
na área de cobertura da pesquisa (Grande Rio de Janeiro).
Portanto a amostra cobre 16,7% das ocorrências. Tal
percentual é bastante representativo em uma pesquisa
e, neste caso, permite a estratificação proposta
para o estudo como também sua projeção para o universo
coberto.
A linha Razão A/B indica quantos
crimes do Grupo A ocorrem para um crime do Grupo
B. A relação é: para cada 27 homicídios não evitáveis pelo Estatuto do Desarmamento ocorre UM que poderia ser evitado.
Outro elemento interessante, e que põe por terra as argumentações dos
anti-armas, é somar-se Policiais
Mortos (6,0%) com Bandidos
Mortos (45,1%) e Bala Perdida A (4,1%):
o total chega a 55,2% das mortes no período. Estas
mortes foram causadas por disparos de armas pesadas:
AK47, AR15, Fal e pistolas 9 mm e .40 que continuarão
a ocorrer, pois são decorrentes da Guerra do Tráfico
e partem de armas que chegam às mãos da bandidagem
via contrabando. Isto demonstra claramente a cegueira
de nossas autoridades e sua incapacidade de separar
o principal do secundário. Gastou-se em torno de
70 milhões de reais na Campanha do Desarmamento em viagens de autoridades,
no pagamento das armas recolhidas, em campanhas publicitárias,
salários de policiais e logística para destruir as
armas apreendidas. Agora vai-se gastar mais 500 milhões
de reais no Referendo. Tudo isso para recolher 3%
das armas em mãos dos cidadãos. É o retrato sem retoques
dos políticos deste pobre país: gasta-se 570 milhões
de reais para combater 3,7% de um problema e simultaneamente
corta-se os mesmos 550 milhões de reais que seriam
usados para combater os 96,3%. Alguém tem uma explicação
lógica?
Para facilitar a leitura apresento a seguir os homicídios em ordem decrescente
de ocorrência dos eventos (ranking). Os ítens marcados
com asterisco (*) são os não evitáveis pelo estatuto.
RANKING POR TIPO DE EVENTO
|
Evento
|
Quant.
|
%
|
Tipo
|
1
|
Bandidos mortos
|
196
|
45,1%
|
*
|
2
|
Execução
|
72
|
16,6%
|
*
|
3
|
Assalto
|
48
|
11,0%
|
*
|
4
|
Razão não identificada
|
42
|
9,7%
|
*
|
5
|
Policiais mortos
|
26
|
6,0%
|
*
|
6
|
Bala perdida – A
|
18
|
4,1%
|
*
|
7
|
Invasão de domicílio
|
10
|
2,3%
|
*
|
8
|
Por portadores legais
|
7
|
1,6%
|
*
|
9
|
Brigas em bares/festas
|
4
|
0,9%
|
|
10
|
Crime conjugal/passional
|
4
|
0,9%
|
|
11
|
Outros (disparo acidental, etc.)
|
3
|
0,7%
|
|
12
|
Bala perdida – B
|
2
|
0,5%
|
|
13
|
Brigas em família
|
1
|
0,2%
|
|
14
|
Brigas no trânsito
|
1
|
0,2%
|
|
15
|
Suicídio
|
1
|
0,2%
|
|
|
T O T A L
|
435
|
100,0%
|
|
Como se pode observar, os oito primeiros tipos de homicídios que representam
96,3% dos casos estudados, são todos do tipo não evitável pelo
Estatuto do Desarmamento. Isto significa que
eles vão continuar
a ocorrer independentemente de leis, regulamentos,
estatutos, CPIs, ação de ONGs ou qualquer outra forma
de balela que as autoridades usem para mascarar sua
incapacidade de enfrentar e resolver o verdadeiro
problema, cujas causas e origens até crianças do
jardim de infância sabem.
Embora as notícias sobre mortes de marginais (45% do total de mortes)
nem sempre informem a idade do morto, estas mortes
ocorrem maciçamente na faixa dos 15 aos 31 anos de
idade. E aí cai por terra mais um argumento dos anti-armas:
o genocídio causado pelas malvadas
armas de fogo que vêm ceifando nossa juventude.
Não há genocídio algum nem tampouco os mortos são
majoritariamente jovens trabalhadores. O que de fato
ocorre são jovens que precocemente trilham o caminho
do crime e acabam mortos prematuramente por policiais
ou por outros traficantes em guerras de quadrilha.
Como já aconteceu na análise dos dois primeiros meses, todos os números
contrariam as afirmações dos anti-armas: não existe
um criminoso da classe média matando gente a tiro como resultado de
brigas no trânsito. Nos 120 dias de pesquisa apenas
uma morte ocorreu no trânsito, ainda que questionável,
já que o fato ocorreu numa área deserta e poderia
ser resultado de um assalto.
Classifiquei como Briga no trânsito o
que chamo de “benefício
da dúvida”. De fato, o verdadeiro matador de
classe média usa outro tipo de arma: automóveis. Basta ver o que noticiou O Globo em ampla reportagem (07/07/05, pág.
17), onde descreve que o número de mortos no trânsito,
na cidade do Rio de Janeiro, aumentou 90% - passando
de 835 mortes em 2003 para 1.583 em 2004. Por puro
acaso, este é o número de mortes que ocorrem no Brasil
inteiro em um ano e que os anti-armas pretendem reduzir com
o Estatuto do Desarmamento.
Assim como a maioria dos mortos por armas de fogo é de
marginais com idade até 31 anos, 45% dos acidentados
no trânsito têm entre 18 e 30 anos.
O Globo, com certeza com muita má-vontade,
foi obrigado a reconhecer a gravidade do problema
do trânsito no Brasil em seu editorial intitulado Choque
de gestão, publicado em 16/07/05 no jornal da
família Marinho, onde se lê: “O trânsito no Brasil mata tanto quanto arma de
fogo. A constatação de que cerca de 40 mil pessoas
morrem nas ruas e estradas do país a cada ano...”.
Se vamos nos fiar nos números do ínclito presidente
do Senado, senador Renan Calheiros, o
trânsito mata mais. Segundo o senador, as armas
matam 38 mil pessoas por ano. Assim, o trânsito mata
2.000 pessoas ou 5% a mais do que as armas. E aí mais
uma vez é preciso comparar-se maçãs com maçãs. Os
crimes evitáveis pelo estatuto comparados com aqueles
no trânsito, causados por imprudência, imperícia,
desatenção e álcool são, segundo o presidente do
DENATRAN, 96% dos casos. Num cotejo justo estaríamos
comparando 38.400 (mortos no trânsito) contra 1.406
(mortes evitáveis pelo Estatuto do Desarmamento).
Creio ser importante que as pessoas divulguem estes números. Nós, os que
defendemos o direito à nossa defesa e à de nossas
famílias não temos espaço em jornais como os anti-armas
têm, nem generosas verbas do Governo Inglês, nem
tampouco farta cobertura em televisão estatal (TV
Senado), nem sites como o do Senado que, num
desrespeito àqueles que com seus impostos pagam os
altos salários dos funcionários daquela casa, tem
uma “janela” intitulada DESARMAMENTO: Entre nesta campanha! Se quisermos defender nossa
causa precisamos fazê-lo na base do corpo a corpo
e neste caso, precisamos estar municiados com fatos
e verdades irretorquíveis. Este foi o motivo que
norteou esta pesquisa.
Sobre o assunto, acesse a
Editoria Desarmamento.
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