Catolicismo
outubro de 2003 - www.catolicismo.com.br Há correlação
entre posse de armas e violência?
“Se
as armas estão fora da lei, só os
fora-da-lei terão armas”
Mr.
Cunningham
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Para conferências em São Paulo e Rio de
Janeiro, veio ao Brasil Mr. Charles Cunningham, Diretor
de Assuntos Federais do Instituto para Ação
Legislativa da Associação Nacional do Rifle
(ILA- NRA), dos Estados Unidos — a mais antiga entidade
de defesa de direitos civis daquele país. Sua
fundação data de 1871. Mr. Cunningham,
que dirige o escritório da NRA em Washington,
foi a primeira pessoa galardoada com o prêmio Ronald
Reagan, instituído pela Conservative Political
Action Conference, em 1998.
Após
sua conferência
no Rio de Janeiro, Mr. Cunningham concedeu entrevista
especial a Catolicismo,
respondendo perguntas sobre o tema de sua especialidade.
Tema muito atual no Brasil, pois, como se sabe, tramitam
no Congresso Nacional projetos de lei com o objetivo
de estabelecer em nosso País o desarmamento civil.
* * *
Catolicismo — Nossos leitores gostariam de conhecer um pouco da
história, atuação e
objetivos da Associação Nacional do Rifle
– NRA.
Mr.
Cunningham — A National Rifle Association (NRA) foi fundada em
1871 por antigos funcionários do
governo federal. Eles haviam aprendido por experiência
própria, durante a War Between the States [“Guerra
entre os Estados” — refere-se à Guerra de Secessão],
que especialmente nos Estados do norte havia uma evidente
necessidade de treinamento e perícia em tiro ao
alvo. Após a aprovação da Lei de
Controle de Armas em 1968, a NRA participou ativamente
no processo político e legislativo, por meio do
seu Instituto para Ação Legislativa e do
Fundo para Vitória Política, nosso comitê de
ação política.
Catolicismo — Quantos membros tem a NRA?
Mr.
Cunningham — Temos cerca de 3,8 milhões de
membros contribuintes.
Catolicismo — Qual o embasamento legal da NRA para defender
o direito de possuir e portar armas?
Mr.
Cunningham — A 2ª Emenda da Constituição
Americana garante, entre os nossos direitos, o de os
cidadãos honestos possuírem e portarem
armas. 44 Estados incluem também esses direitos
nas suas constituições próprias.
Esse direito fundamental é o que assegura nosso
status de cidadãos, e tem evitado que os americanos
se tornem súditos ou servos tiranizados por governos
opressivos.
Catolicismo — O movimento pacifista americano, por ocasião
do fim da guerra do Vietnã, criou problemas para
a NRA?
Mr.
Cunningham — Não me parece, ao menos em curto
prazo. O controle de armas tornou-se assunto de controvérsia
nacional a propósito de atentados — abusos de
armas de fogo por criminosos — contra políticos
de projeção, como Robert Kennedy e Martin
Luther King.
Catolicismo — Pelo que se pode perceber à distância,
depois dos ataques de 11 de setembro, houve grande aumento
do espírito patriótico americano. Isso
de fato aconteceu?
Mr.
Cunningham — Além de uma explosão
de patriotismo, muitos cidadãos americanos tornaram-se
intensamente interessados em proteção pessoal,
tendo em vista que o terrorismo era praticamente desconhecido
no nosso território, e se desconhece ainda que
forma ele pode adquirir no futuro. Conseqüentemente,
cresceu o número de pessoas adquirindo armas,
o envolvimento em cursos de treinamento para sua utilização
com segurança e os pedidos de autorização
para o porte, especialmente entre as mulheres.
Catolicismo — No Brasil, os esquerdistas querem tornar ilegal a
fabricação, venda, posse e porte
de armas. Tem havido forte reação contra
esses projetos, e em conseqüência a esquerda
atenuou sua investida. Estão agora propondo a
proibição do porte de armas de defesa própria,
sob alegação de que isso reduzirá os
crimes, que têm aumentado rapidamente no País.
Se conseguirem esse objetivo, o Sr. acha que os crimes
diminuirão?
Mr.
Cunningham — É claro que não. E seria
ingenuidade e tolice pensar de outro modo. Os criminosos,
por definição, violam as leis, especialmente
as de controle de armas. Entre nós existe um ditado:
“Se as armas estão fora da lei, só os fora-da-lei
terão armas”. Não surpreende que os Estados
e cidades com leis mais rigorosas de controle de armas
sejam os que têm maiores índices de crimes
violentos. O controle de armas só atinge e prejudica
os cidadãos honestos, desarmando as vítimas
potenciais de crimes violentos. No que se refere ao porte
de armas de fogo para defesa pessoal, o que se sabe é que
os criminosos não requerem o porte, e os detentores
do porte não cometem crimes.
Catolicismo — Qual a vantagem de a população
se armar? Não é obrigação
do Estado defender os indivíduos?
Mr.
Cunningham — O Estado (ou a polícia)
não tem a obrigação de defender
os indivíduos, e sim a sociedade como um todo.
A obrigação de autodefesa é de cada
indivíduo. A vantagem de se ter uma população
armada é que as potenciais vítimas inocentes
têm a oportunidade de defender a si próprias
e às suas famílias. Não é exeqüível
sustentar policiais em número suficiente para
proteger nossa vizinhança. Mesmo se pudéssemos,
pessoas livres não devem ser forçadas,
por motivos de segurança, a viver num Estado policial.
Benjamin Franklin afirmou que “os que sacrificariam a
liberdade por causa da segurança não merecem
nem a liberdade nem a segurança”. Ao arrepio das
leis, os criminosos têm e sempre terão acesso
a armas que podem ser usadas para violência, até mesmo
nas prisões. Conseqüentemente, os cidadãos
honestos devem ter acesso aos meios para se protegerem
contra esses predadores violentos.
Catolicismo — Segundo parece, a população
americana tem um sentimento religioso profundamente cristão.
Isso cria dificuldades para a NRA?
Mr.
Cunningham — Pelo contrário. Acredito que
a fé religiosa da maioria dos americanos age em
nosso favor. Há uma possante ética de justiça
e de tomar diariamente importantes decisões entre
o certo e o errado. Esses altos padrões de comportamento
nos favorecem, pois é correto conceder aos cidadãos
inocentes o acesso a meios e oportunidades de defender-se
contra ataques violentos. E é errado restringi-los
quando uma ínfima minoria abusa de suas liberdades
constitucionais.
Catolicismo — Como age a NRA para manter a “cultura da arma” tão
viva na mentalidade dos americanos?
Mr.
Cunningham — Nós trabalhamos para
fornecer à juventude oportunidades de caça
e tiro, a fim de garantir que a próxima geração
mantenha o interesse de assegurar para o futuro os direitos
da 2ª Emenda. A NRA tem também muitos programas
— de educação, treinamento e aperfeiçoamento,
serviços de caça etc. — para auxiliar nesse
esforço contínuo. Demonstrações
de armas e clubes locais de tiro e caça são
também atividades muito importantes para perpetuar
nosso modo de vida dotado de livre posse e uso de arma.
Finalmente, nossas revistas mensais — The American Rifleman,
The American Hunter e America’s First Freedom — mantêm
nossos membros sempre informados.
Catolicismo — Quais são as acusações
dos pacifistas contra a NRA e os proprietários
de armas, e como o Sr. as contesta?
Mr.
Cunningham — Esta é uma pergunta muito abrangente,
cuja resposta tomaria mais espaço do que o disponível.
Nossos adversários políticos sempre procuram
difamar as armas e seus proprietários. Procuram
associar armas a violência, como se seres inanimados
pudessem cometer crimes. Estamos convencidos de que não
existem armas boas ou más, e preferimos usar essa
classificação para as pessoas. Ou seja,
nosso esforço para tentar reduzir os crimes violentos
está centrado nos criminosos, e não nas
armas das quais eles abusam. A NRA sustenta a necessidade
de punição segura, rápida e severa
pelo uso de arma de fogo para cometer um crime. Durante
muito tempo o sistema de justiça criminal adotou
uma prática de “prende-e-solta” em relação
a criminosos violentos, por meio de artifícios
como acordos para redução de penas, livramento
condicional, sursis e licença, que liberaram criminosos
para se misturar à sociedade e continuar ameaçando
cidadãos inocentes. Se nosso governo finalmente
agir efetivamente em relação aos poucos
que repetidamente cometem atos de violência, nossa
sociedade não só se sentirá mais
segura, mas de fato será mais segura.
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